segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Carta circular: Cenários, resistência e contraofensiva da esquerda


A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda - AE, reunida nos dias 5 e 6 de agosto de 2017, aprovou as seguintes orientações para a sua militância, referentes ao período que se estende até o Congresso Nacional da AE, que ocorrerá nos dias 24 a 26/11/2017.

1. A classe trabalhadora brasileira está num momento de defensiva estratégica. Noutras palavras, nossa prioridade é defender os direitos sociais e políticas públicas, as liberdades democráticas e a soberania nacional, que estão sendo atacadas pela coalizão golpista.

2. O tempo que vai durar este momento de defensiva estratégia e os caminhos pelos quais ele será superado dependem das lutas politicas e sociais que estão em curso, das escolhas estratégicas das diferentes forças organizadas que disputam os rumos de nossa sociedade, bem como dos impactos que a situação internacional tenha sobre o Brasil.

3. A coalizão golpista tem unidade estratégica em torno de três objetivos: reduzir o salário direto e indireto pago para a classe trabalhadora; reduzir as liberdades democráticas; alinhar o Brasil com a política externa dos EUA e seus aliados.

4. Desde o golpe até hoje a coalizão vem conseguindo implementar seu programa. Exemplos disto são a contrarreforma trabalhista e da previdência, a PEC que estabelece um teto para as políticas públicas e sociais, a mudança da lei da partilha e da venda de terras aos estrangeiros, entre outras medidas reacionárias.

5. Entretanto, a coalizão golpista enfrenta dificuldades, que devem ser utilizadas pela classe trabalhadora, na perspectiva de interromper a ofensiva, reverter e derrotar o golpismo.

6. As dificuldades começam pelo cenário internacional, marcado por uma situação de crise que não oferece perspectivas de curto prazo de retomada da atividade econômica, nem oferece vantagens especiais para quem optou por uma aliança preferencial com os Estados Unidos. Ademais, é preciso considerar que a situação internacional pode evoluir para uma situação de crises e de guerras mais profundas do que aquelas que assistimos desde o fim da URSS.

7. As dificuldades incluem a resistência que a classe trabalhadora vem oferecendo contra o golpismo, através de lutas e mobilizações, na rejeição ao presidente usurpador e na crescente intenção de voto em Lula.

8. As dificuldades envolvem, também, as divisões internas da coalizão golpista, algumas vinculadas a “partilha do botim”, outras relacionadas a diferenças políticas de variados tipos, inclusive sobre como lidar com os efeitos colaterais da Operação Lava Jato sobre lideranças políticas das próprias elites. Um exemplo disso foi a divisão da base do governo Temer, na votação sobre o pedido de autorização feito pela PGR para processar o presidente usurpador.

9. Embora não tenham resultado na interrupção da ofensiva, nem na derrubada do governo golpista, estas dificuldades podem se avolumar e desembocar numa derrota eleitoral das candidaturas vinculadas ao golpismo. Podem, inclusive, desembocar numa vitória de Lula.

10. Por isto a coalizão golpista vem buscando maneiras de interditar a candidatura Lula, inviabilizar o funcionamento do PT, dificultar a ação do movimento sindical, criminalizar a resistência popular e bloquear as brechas eleitorais da esquerda, por exemplo através do parlamentarismo, do voto distrital ou do chamado “distritão”, bem como vitaminando candidaturas populistas de direita, como Dória e Bolsonaro.

11. A coalizão golpista pretende não apenas implementar, mas também perpetuar pelo máximo de tempo possível o programa da “ponte para o futuro”. A classe trabalhadora tem o objetivo oposto: derrotar o mais rápido possível o golpismo. Mas para que isso ocorra, será preciso combinar a máxima resistência tática com uma reformulação estratégica.

A máxima resistência tática

12. Os anos de 2017, 2018 e 2019 serão de imenso conflito, em âmbito nacional, regional e mundial. A dúvida é saber em que condições a classe trabalhadora participará deste conflito: se na condição atual, de defensiva; ou se conseguiremos retomar a ofensiva e inclusive o governo federal. Vivemos, portanto, num daqueles momentos em que a tática e a estratégia fazem um nó, ou seja: da solução de questões táticas, derivarão condições muito diferentes para enfrentar um determinado cenário estratégico.

13. A tática na luta contra o golpismo envolve: a) o trabalho cotidiano de organização e conscientização da classe trabalhadora; b) as lutas e mobilizações de massa; c) a construção e defesa das organizações populares, inclusive da Frente Brasil Popular; d) a defesa do PT e de Lula, em particular do nosso direito de tê-lo como candidato à presidência da República; e) a oposição radicalizada ao governo Temer e seus aliados, expressa nas palavras de ordem Fora Temer e Diretas Já; f) a luta em defesa dos direitos ameaçados pelas contrarreformas e o compromisso de lutar pela sua revogação, através da eleição de Lula e da convocação de uma Assembleia Constituinte.

14. A resistência em defesa dos direitos, ao menos até agora, não teve êxito. Seja por conta dos golpistas terem uma maioria institucional consolidada, seja por conta da mobilização insuficiente, que em alguma medida está vinculada à inércia da dinâmica eleitoral (desde 1989 o país se acostumou com isto), a tendência é que a resistência em defesa dos direitos desemboque nas eleições de 2018, onde também o golpismo poderá ser “legitimado” ou derrotado nas urnas.

As eleições 2018

15. Os golpistas têm à sua disposição duas táticas para enfrentar 2018: a) a de buscar interditar a vitória eleitoral da esquerda e b) a de buscar derrotar eleitoralmente a esquerda. Já a esquerda, embora disponha de várias táticas, só dispõe de uma com potencial de vitória eleitoral em 2018: a candidatura, a campanha e a eleição de Lula presidente da República.

16. Caso a direita interdite Lula, qualquer que seja a reação da esquerda, as chances de vitória eleitoral em 2018 serão muito reduzidas. Caso a direita não interdite Lula, as chances de vitória eleitoral da esquerda aumentam muito. Mas mesmo assim, a eleição de Lula está longe de ser o único cenário. Alternativas como novo golpe, parlamentarismo e inclusive uma vitória eleitoral da direita estarão também colocadas. Motivos pelos quais devemos:

a) insistir na mobilização de massas em defesa dos direitos. Mesmo que não tenhamos êxito imediato, isto acumula forças para uma vitória na batalha eleitoral e, mesmo em caso de derrota em 2018, acumula forças para a resistência posterior;

b) radicalizar o tom e a atitude na resistência, inclusive no parlamento, onde devemos tomar como parâmetro mínimo de atuação a atitude das três bravas senadoras que ocuparam a mesa do Senado. Contra a violência, a desobediência civil é mais do que legítima, é necessária e recomendável sempre e quando seja compreensível para o povo;

c) esclarecer a população sobre o perigo contido nas alternativas postas pela direita (por exemplo, Bolsonaro e Dória);

17. Cabe, também, evitar as armadilhas postas para o PT no debate sobre a possível interdição de Lula. Duas destas armadilhas são as seguintes:

a) naturalizar a interdição, como se fosse algo banal, frente ao que o PT deveria agir com naturalidade, lançando ou apoiando outro nome. Pensamos o oposto: não se trataria de algo banal. Interditar Lula, assim como a possível adoção do parlamentarismo e o fim do voto proporcional, seria uma violência imensa contra a democracia, contra a esquerda, contra a possibilidade dos setores populares voltarem a governar o Brasil. Nossa reação a isto não pode e não deve ser banal;

b) considerar que a interdição é inevitável e, portanto, preparar desde já as alternativas. Pensamos o seguinte: a interdição é muito provável e devemos nos preparar. Mas “nos preparar” não pode significar nada que naturalize e banalize a violência cometida contra nós, nem tampouco podemos abrir mão de lutar até a última possibilidade.

18. Reiteramos não existir “plano B”: eleição sem Lula é fraude. E é muito complexo decidir o que fazer diante de uma fraude. A esse respeito, basta dizer que --caso a interdição venha mesmo a ocorrer, esgotadas todas as alternativas-- o PT teria diante de si três grandes alternativas: o boicote (ativo ou passivo, geral ou parcial); o lançamento de outra candidatura petista; o apoio à alguma candidatura de outro partido.

19. O boicote é uma alternativa legítima, no cenário de uma interdição. Afinal, o efeito prático da interdição seria facilitar e no limite legitimar a vitória da direita. Como já foi dito, “eleição sem Lula é fraude” e participar ajudaria, em alguma medida, a legitimar a fraude. Falando em tese e tomando como base experiências de outros países, um boicote poderia ser parcial (apenas à eleição presidencial) ou geral (para todos os cargos em disputa); poderia ser passivo (orientar o voto nulo e/ou o não comparecimento) ou ativo (trabalhar para que as pessoas não votem). Entretanto, a julgar pela experiência brasileira, mesmo aquela ocorrida na época da ditadura militar, as chances de êxito de um boicote são baixas. Salvo num cenário de boicote ativo e generalizado, que não parece posto no horizonte, um boicote não impediria que alguém fosse eleito presidente da República. Ademais, uma parte do nosso potencial eleitorado tenderia a votar em alguma alternativa; ou seja, na prática o boicote poderia favorecer candidaturas de outros partidos, tanto de esquerda quanto de centro e direita. Há que se verificar, também, que impacto teria um boicote parcial sobre nossas candidaturas a governos estaduais e parlamentos. Por tudo isto, ainda que reiteremos tratar-se de uma alternativa legítima, trata-se de um debate complexo, com muitas variáveis, entre as quais o estado de ânimo do Partido, do nosso eleitorado e da população em geral.

20. Caso a interdição venha mesmo a ocorrer, esgotadas todas as alternativas, o lançamento de outra candidatura petista também seria uma alternativa a considerar. Aliás, tanto a mídia oligopolista quanto setores do Partido já vêm projetando alguns nomes. Entretanto, além disto poder legitimar a fraude, há que considerar que dentre os nomes lembrados, não há candidatura melhor que a de Lula, seja do ponto de vista eleitoral, seja do ponto de vista político-programático. Aliás, dificilmente uma candidatura alternativa poderia ser escolhida, sem que houvesse uma disputa interna, aberta ou não. Finalmente, numa eleição que “sem Lula é uma fraude”, uma candidatura alternativa seria “para valer” ou uma anti-candidatura de protesto?

21. O apoio a uma candidatura de outro partido apresentaria problemas semelhantes (legitimação da fraude; nenhuma é melhor que Lula; haveria disputa; seria “de protesto” ou “para valer”?), com um agravante: o PT estaria sendo levado a ajudar a construir uma alternativa a si mesmo, enquanto partido que desde 1989 hegemoniza de fato a esquerda brasileira.

22. Finalmente, cabe lembrar que não está descartado que a interdição se estenda ao próprio PT e ao conjunto da esquerda. Portanto, reiteramos que nossa orientação é:

a) insistir na mobilização de massas em defesa dos direitos;

b) radicalizar o tom e a atitude na resistência;

c) esclarecer a população sobre os perigos;

d) não banalizar a violência que se está praticando, nem aceitar o debate sobre o “plano B”;

e) não abrir mão de lutar até que a última possibilidade esteja esgotada. Só neste cenário, caberia discutir o que fazer, levando em consideração não apenas os efeitos táticos da opção, mas também os seus efeitos estratégicos, que devem ser coerentes com uma nova orientação estratégica, que abandone a política de conciliação de classes, retomando a defesa de um programa de reformas estruturais articulado com o socialismo.

23. É nestes termos que compreendemos a importância da defesa de Lula e, também, da mobilização que ele vem liderando por todo o país, a começar pela caravana do Nordeste.

O papel do Partido dos Trabalhadores

24. Para que a resistência tática e a reformulação estratégica tenham êxito, é essencial reconstruir os vínculos orgânicos da esquerda brasileira com a maioria da classe trabalhadora, especialmente com as mulheres, jovens, negros e negras.

25. Na reconstrução dos vínculos orgânicos da esquerda brasileira com a maioria da classe trabalhadora, cumpre papel importante a construção da Frente Brasil Popular, bem como a unidade de ação desta com a Frente Povo Sem Medo. Entretanto, para que a FBP cumpra este papel, é fundamental respeitar seus objetivos, tarefas e limites. Neste sentido, defendemos o estrito cumprimento do que afirma, acerca da FBP, a resolução do 6º Congresso do PT. Também recomendamos à militância da AE que leia e faça circular amplamente o texto a respeito que será publicado no Página 13 de setembro.

26. Também na reconstrução dos vínculos orgânicos da esquerda com a maioria da classe, cumpre papel decisivo o movimento sindical, vítima direta e indireta da contrarreforma trabalhista. É nesta perspectiva que os sindicalistas vinculados a AE participarão do próximo congresso da CUT, defendendo a linha expressa nas edições de agosto e setembro do jornal Página 13. Os sindicalistas da AE devem distribuir o Página 13 tanto no Concut quanto em suas bases sindicais.

27. A reconstrução dos vínculos orgânicos da esquerda em geral, e do Partido dos Trabalhadores em particular, com a maioria da classe, nos locais de moradia, estudo e trabalho, exigirá dar à ação de base cotidiana o mesmo padrão de atenção, prioridade e planejamento que é comum encontrar na ação eleitoral.

28. Entretanto, embora muitos falem da necessidade de retomar o “trabalho de base” e de “reconstruir os laços com a classe”, há diferentes maneiras de fazê-lo. E estas diferenças estão vinculadas, em alguma medida, às diferenças estratégicas que existem na esquerda brasileira. A estratégia que defendemos supõe, implica e envolve a existência de um partido de massas como o Partido dos Trabalhadores.

29. Portanto, para nós não se trata apenas de defender o PT contra os ataques da direita, embora isto seja muito importante. Nem se trata apenas de considerar que uma derrota do PT produziria uma derrota geral da esquerda. Trata-se, em primeiro lugar, de considerar que a vitória do socialismo num país como o Brasil, nas atuais condições históricas, exige um partido de massas como o PT; mas orientado por uma estratégia diferente da que nos orientou, entre 1995 e 2016.

O papel da tendência petista Articulação de Esquerda

30. Construir esta nova estratégia foi nossa prioridade no 6º Congresso Nacional do PT. Embora as resoluções tenham avançado neste sentido, a reformulação pretendida e necessária ainda não ocorreu. Com o objetivo de seguir contribuindo na formulação desta nova estratégia, convocamos o 4º Congresso Nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, dedicado exclusivamente ao debate sobre a estratégia de luta pelo socialismo no Brasil. Evidentemente, o debate estratégico também se materializa em orientações táticas e organizativas, que estão explicitadas no projeto de resolução aprovado pela Dnae na reunião de 5 e 6 de agosto de 2017.

31. O 4º Congresso será realizado em duas etapas. A primeira etapa, envolvendo congressos municipais, estaduais e o congresso nacional nos dias 24 a 26 de novembro de 2017, será dedicada exclusivamente ao debate sobre a estratégia de luta pelo socialismo no Brasil. A segunda etapa do 4º Congresso da AE, que será realizada em data a ser definida nos âmbitos municipal, estadual e nacional, será dedicada aos demais temas táticos e organizativos, inclusive à eleição das novas direções da AE.

32. Nossa militância deve encarar o processo de Congresso da AE como mais uma possibilidade de diálogo entre nós e o conjunto do partido, nossas bases sociais e eleitorais, a intelectualidade de esquerda e os trabalhadores da cultura. Neste diálogo devemos buscar a crítica e o aperfeiçoamento de nossas posições, assim como a ampliação da influência e do tamanho da tendência.

33. Para contribuir nisto, é necessário divulgar amplamente o projeto de resolução debatido pela Dnae nos dias 5 e 6 de agosto de 2017; realizar o congresso da AE nos 27 estados; convidar para as diversas etapas do Congresso todos os setores da “nação petista”; organizar atividades em todos os estados e cidades, nas mais diversas categorias de trabalhadores e setores sociais; combinando isto com novas filiações ao Partido dos Trabalhadores e novos militantes para a AE.

34. O processo de eleição das novas coordenações setoriais do PT também deve ser visto como um momento de prosseguimento do debate estratégico e de reorientação da ação cotidiana do Partido. A este respeito, recomendamos a leitura da resolução específica aprovada a este respeito pela Dnae nos dias 5 e 6 de agosto de 2017. Mas de imediato pedimos que todos e todas façam imediatamente a devida opção setorial, que encerra no dia 18 de agosto.

35. Também na perspectiva de dar consistência ao nosso trabalho de base, até novembro de 2017 a Dnae vai elaborar e divulgar “cartilhas” com, respectivamente, nossa linha sindical, nossa linha para o trabalho de juventude, nossa linha para o trabalho de mulheres, nossa orientação para os mandatos legislativos e executivos, bem como nossa política para as eleições de 2018. Também divulgaremos a segunda edição da nossa “cartilha” sobre diretrizes e funcionamento da tendência petista Articulação de Esquerda, especialmente quanto ao trabalho de construção do PT.

36. Esta segunda edição deve conter as seguintes orientações:

a) incluir diretrizes detalhadas sobre o funcionamento das direções estaduais, municipais, coordenações setoriais e núcleos de base, inclusive sobre critérios para escolher os integrantes de nossas instâncias. A conjuntura exige, mais do que antes, um alto nível de organicidade e eficiência no trabalho coletivo. Nessa perspectiva, encarregar o secretariado de iniciar desde já a discussão sobre a composição de nossa próxima direção nacional, começando pelo diálogo com todas e todos que foram eleitos para a atual direção;

b) estabelecer uma política de acompanhamento permanente das instâncias pela Dnae/secretariado. Para viabilizar este objetivo, realizar uma divisão de trabalho entre os membros do secretariado, estabelecendo inclusive responsáveis por constituir a AE e as respectivas direções estaduais onde estas ainda não existam;

c) preparar desde já a AE para participar da eleição do plebiscito/referendo sobre o PED, sem data prevista ainda, e também da eleição da nova direção do PT em 2019;

d) dar prosseguimento às decisões já adotadas sobre nosso trabalho de formação. Garantir que todos os militantes da AE, a começar pelos novos militantes, façam nossa jornada de formação. Lançar ainda em 2017 um vídeo-aula sobre “a história do PT” e sobre “a história da AE”. Preparar para a jornada de formação 2018 um curso de “leitura dirigida de O Capital”.

e) dar prosseguimento às decisões já adotadas sobre o jornal Página 13 e a página eletrônica, reiterando a importância de utilizá-los, seja como mecanismo de formação, seja como instrumentos de ampla divulgação de nossas posições junto às bases militantes do Partido;

f) dar prosseguimento às decisões já adotadas sobre a revista Esquerda Petista. Sugerir ao conselho editorial o lançamento, no segundo semestre de 2017, de uma edição especial sobre 100 anos da revolução russa e, no primeiro semestre de 2018, uma edição especial sobre os 200 anos de Karl Marx.

37. A Dnae propõe ao conselho editorial que discuta como organizar de maneira sistemática a pesquisa, o debate e a elaboração acerca do capitalismo do século XXI e a luta pelo socialismo no século XXI, com destaque para o tema das classes sociais e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil.

38. Para financiar as atividades acima descritas, dependemos da ampliação e regularidade das contribuições militantes; de contribuições eventuais; e de campanhas de arrecadação. A campanha de finanças 2018 será lançada no Quarto Congresso da AE, em novembro de 2017. De imediato, aprovada a impressão da Agenda 2018 dedicada aos 200 anos de Karl Marx, cabendo à tesouraria definir a tiragem.

39. Em setembro de 2018 a tendência petista Articulação de Esquerda completará 25 anos de existência. Parte expressiva de nossa militância nasceu e/ou iniciou sua militância depois da criação da AE. Além das atividades de formação e das publicações que faremos em 2018, na perspectiva de comemorar este “primeiro quartel” de existência, cabe também dar prosseguimento ao trabalho de formação desta nova geração, assim como de atualização das concepções da militância que já militava nos anos 1990. Esta é uma tarefa que o PT enfrenta com dificuldades, dificuldades que devem servir de ensinamento para que façamos aquilo que deve ser feito, garantindo que nossa política sobreviva não apenas aos imperativos da biologia, mas principalmente aos duros embates da luta de classes, típicos de um “tempo de guerra”.

40. No dia 13 de setembro de 2017, o secretariado nacional fará uma revisão dos encaminhamentos que derivam de cada uma destas decisões, podendo inclusive redistribur/reforçar as equipes responsáveis pelos temas de formação (Rodrigo), comunicação (Valter, Rafael, Rodrigo, Emilio e conselho editorial), organização, finanças (Damarci, Edma, Rubens, Emilio, Valter), trabalho de massas, juventude (Daniela, Rodrigo), sindical e institucional.

41. Caberá ao secretariado, também, prosseguir o debate sobre a atuação da juventude da AE e sobre o balanço do Congresso da UNE. Em relação ao primeiro ponto, a reunião da Dnae de 5 e 6 de agosto aprovou uma resolução específica. Em relação ao Congresso da UNE, a coordenação nacional da JAE vai apresentar um texto a respeito, que servirá de base para a posterior discussão e deliberação da direção da tendência.

42.Em relação ao congresso do PT, a reunião da Dnae de 5 e 6 de agosto iniciou o debate a respeito, que também está expresso nos artigos publicados nas edições de julho e agosto do jornal Página 13 e na sétima edição da revista Esquerda Petista.

43. Neste debate, foi destacado que a cúpula do grupo majoritário do PT não queria convocar o congresso extraordinário, não queria fazer um balanço crítico e autocrítico do último período, não queria aprovar as resoluções que foram elaboradas pela comissão de teses do Congresso, não queria eleger uma presidência nacional partidária que implicasse em algum tipo de renovação e/ou de radicalização da linha política. Entretanto, foram forçados a fazê-lo, sob pressão da conjuntura, da direita, das bases sociais, de seus quadros intermediários, de parte de seus quadros dirigentes, bem como sob pressão dos demais setores do Partido.

44. A Articulação de Esquerda contribuiu nesta pressão, cumprindo em alguns momentos papel decisivo, superior à nossa própria força. Além disso, apesar das regras adotadas no PED de 2017, conseguimos eleger uma delegação que nos permitiu um pequeno aumento em nossa bancada no DN e manter nossa representação na CEN.

45. Quanto à tática adotada pela Articulação de Esquerda no Congresso do PT, iniciamos um debate que ainda não se concluiu. Por exemplo, sobre se caberia fazer uma autocrítica quanto a nossa atitude frente ao Muda PT. A saber: participamos do Muda PT desde o início, mesmo sabendo de suas limitações. Ao fim e ao cabo, estas limitações foram tão grandes que optamos por lançar chapa própria, hipótese que cogitávamos desde o início. Mas tendo sido este o desfecho, cabe questionar se não deveríamos ter operado ativamente nesta perspectiva desde o início.

46.  Também debatemos sobre a candidatura Lindbergh a presidente nacional do PT. Estimulamos esta candidatura, mas tomamos o cuidado de não a apoiar formalmente desde o início, cobrando antes que o candidato se comprometesse com uma plataforma e com um acordo de conduta na direção partidária. Mantivemos o apoio, mesmo quando a candidatura se viu enfraquecida devido ao lançamento de uma forte alternativa, proveniente do campo da CNB. E votamos na candidatura Lindbergh.

47. Entretanto, tendo em vista os problemas que sabíamos e constatamos (inclusive a posteriori, como é o caso da reunião com setores da Frente Povo Sem Medo, PSOL e PT, supostamente para discutir um “programa alternativo”); bem como tendo em vista a importância de uma candidatura presidencial para ampliar a bancada da própria AE no Congresso, cabe perguntar se não deveríamos ter feito como em todos os PED anteriores, a saber, lançado candidatura própria da AE para disputar a presidência nacional do Partido.

48. Caberá ao secretariado, finalmente, prosseguir o debate sobre o “estado geral” da esquerda brasileira e o papel da AE neste contexto. Somos uma pequena tendência de um grande partido. Um partido que vive uma crise proporcional ao seu tamanho. Crise que afeta o conjunto da esquerda brasileira, produzindo na maior parte dos casos deslocamentos que vão para a direita. O racha do PSTU entra no PSOL. O PCO torna-se o maior dos defensores do PT, de Lula e Dilma. O Levante Popular da Juventude alia-se ao PCdoB. Estas movimentações são causadas e/ou acompanhadas de correspondentes reformulações na linha política.  Neste cenário, a AE decidiu manter sua política. No movimento sindical, pelo menos até agora, isto não impediu nosso contínuo crescimento. No movimento estudantil, isto resultou no nosso isolamento, em parte por não aceitarmos compor uma chapa liderada pelo PCdoB. No PT, nossa postura ajuda a entender parte dos problemas que estamos vivendo na composição da CEN do PT. Frente a este quadro, nossas decisões vêm sendo:

a) manter e aprimorar nossas formulações políticas. Nossa avaliação dos rumos da luta de classe tem sido confirmada pelos fatos;

b) valorizar o acúmulo que possuímos, expresso em nossa história, nos quadros que formamos e dispomos, nos instrumentos de comunicação que construímos;

c) constatar que a conjuntura é complexa, que temos mais tarefas que gente, que temos mais gente do que gente preparada, e que, portanto, necessitamos de mais planejamento e mais organicidade, tanto nas direções quanto na base;

d) reconhecer que estamos diante de desafios de médio e longo prazo.

49. Caberá ao secretariado nacional, também, encaminhar as decisões adotadas pela Dnae acerca da composição da Comissão Executiva Nacional do PT. Uma resolução específica a respeito será divulgada proximamente, assim como uma orientação sobre nossa participação na próxima reunião do DN do PT, dias 22 e 23 de setembro de 2017.

Direção Nacional de Articulação de Esquerda
São Paulo, agosto de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário